Le silence de la mer
O que mais queria é elevar-me acima daquilo que torna as relações incontornavelmente normais, sem réstia do fogo ou de uma centelha que a faça renascer das cinzas. E tornarmo-nos aos poucos, estranhos capitalizáveis na vida dos outros. Mas sei que recusar a passagem do tempo e do esquecimento é uma tarefa longe do alcance da minha vontade quente em corpo frio. Cabe tanta coisa no silêncio, tanta coisa que nunca podei precisar como o mar que não posso medir em braçadas ou o deserto em pegadas. Essa incomensurabilidade esmaga os homens, esmaga-me a mim, que ainda procuro respostas. Mas sou impotente na minha gaiola de pedras preciosas e marfim.
O significado oculto daquilo que nos é vedado será sempre um mistério que vai para além de todas as lógicas racionais e equacionáveis, pela sua sacralidade nas nossas vidas. O próprio exercício da lógica e da racionalização são artifícios que usamos para entreter a mente na impossibilidade de obter respostas. Por isso a vida nunca pode ser simples e linear, por isso todos os pores-do-sol encerram nele a incerteza da continuidade da vida e paralelamente o que a faz existir.
Clepsidra 2005
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