Tuesday, September 06, 2005

Gaivota

No olhar de uma gaivota encontro o grito que nunca soltaste. O que faltou dizer são ondas numa maré que não alcanço e que seguiu o seu rumo, o que falta ainda dizer são todas as páginas amarelas e bafientas de uma bíblia que não se abriu. Saberás da sacralidade do silêncio construído a partir de um amor impossível de concretizar. Saberás que o tempo é apenas uma coisa de difícil contorno e abstracção, que subscreves com uma dignidade lúcida e consentida. Não mais tentarei decifrar esses verbos tão raros, essas palavras de ébano e marfim, essas melopeias infinitas que se evaporam quando as tentamos expressar por frases. Recolho-me, como tu, no silêncio que me foi deixado, já sem rancor, já sem revolta. E compreendo que foi essa a tua escolha, esse será o teu fardo que carregarás com orgulho e que aceitarei.

9 Comments:

Blogger KaRL said...

hmmmmm a broken heart?

1:53 PM  
Blogger Clepsidra said...

pois..ou como lhe chamo coita de amor ;)

2:14 PM  
Blogger Rui Barroso said...

Palavras tão bem escolhidas...
Mas espero que nunca mais tenhas de escrever nada assim.
No entanto, escreve. Escreve outras coisas porque escreves muito, muito bem!
E... força!

:)

9:02 AM  
Blogger KaRL said...

"coita"... uma palavra que me faz lembrar suor e coisas dessas :x

1:24 PM  
Blogger a das artes said...

A derrota pode ser infligida mas também consentida. Falas de derrota que se denota consentida. Quem provocou o quê? Quem provocou quem? Que importa isso agora se a derrota (ou perda) é asumida?Clepsidra Corajosa!

2:34 AM  
Blogger Clepsidra said...

Neste caso é uma mesmo uma causa perdida. E se é que me foi permitido optar, optei por respeitar o silêncio de quem não quer dialogar.

8:08 AM  
Blogger Clepsidra said...

Sim.

1:33 PM  
Blogger KaRL said...

então e se deixar partir... e ele voltar mas no fundo nunca partiu? :x

3:51 PM  
Blogger Clepsidra said...

Em ti pode nunca partir.é o acto de o libertar e ele voltar, que está em causa, penso eu.

4:00 PM  

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